Recentemente apresentei em um trabalho da universidade uma análise sobre a música Nordeste Independente de Ivanildo Vila Nova e Braulio Tavares.Achei ótimo o trabalho, pois tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre nossa cultura. Procurei abordar com mais detalhes o estilo musical "repente". Convidei para ir até a sala de aula o repentista Antonio Costa e ele com certeza abrilhantou nosso trabalho.
Acho importante valorizar o que é nosso e o cordel, o repente tem tudo a ver com a nossa história.
Na mesma semana, o escritor Vicente Barbosa deu uma entrevista ao Jornal A União falando sobre o tema. O caderno Palco da edição do dia 4 de julho ficará em meu arquivo pessoal.
A entrevista feita pelo radialista Humberto Santos transcrevo agora.
Nos últimos dois anos o professor e historiador Vicente Barbosa vem de modo incansável chamando a atenção.
“Eu vou contar uma história de um pavão misterioso, que levantou vôo na Grécia com um rapaz corajoso; raptando uma condessa filha de um conde orgulhoso”. Assim começa a primeira estrofe da mais conhecida obra de cordel “O romance do Pavão Misterioso” da autoria do guarabirense José Camelo de Melo Rezende cuja primeira edição data de 1923.
Assim como ocorreu em Alagoa Grande com a criação de um memorial em nome do “rei do ritmo” Jackson do Pandeiro, Guarabira também luta pela implantação do seu “Memorial do Cordel”. Nos últimos dois anos o professor e historiador Vicente Barbosa vem de modo incansável chamando a atenção dos poderes públicos e da sociedade guarabirense para a importância da construção de um memorial onde nele será mantido parte da produção literária produzida pelos poetas guarabirenses e nordestinos nas ultimas décadas, forma ideal para se manter viva tão rica tradição.
O historiador Barbosa assevera que dois itens conspiram favoravelmente para criação do memorial, o primeiro deles seria a própria história em que Guarabira se insere como elemento ativo do tema cordel. O segundo é a presença na cidade, do pesquisador José Paulo Ribeiro possuidor de um fabuloso acervo (folhetos, documentários, livros, objetos) garimpados nos últimos vinte anos e que não se omite em doá-lo ao memorial.
Enquanto isso não ocorre, a juventude de Guarabira desconhece parte de sua própria história construída pela dedicação e o estro dos verdadeiros poetas da cultura popular.
Guarabira: Maior centro produtor de cordel entre 1920 a 1950
A partir da segunda década do século XX, Guarabira ganhou fama destacando-se como um dos maiores pólos nordestinos na produção de folhetos de cordel.
Ancorada pela presença de várias tipografias como: Tipografia e Livraria Lima; Tipografia N.S. da Luz; Tipografia A voz do Brejo; Tipografia Moderna; Tipografia Santos, Guarabira contribuiu com a produção mensal de milhares de cordéis distribuindo os mesmo por todo Nordeste. Esse fato tornou Guarabira cobiçada por inúmeros poetas cordelistas,e, e muitos deles vindo residir nessa cidade brejeira pela facilidade da impressão de suas obras foi o caso de Antônio Ferreira da Cruz, Romaro Elias da Paz, João Melchíades dentre outros vates populares.
No ano de 1939, Joaquim Baptista de Sena (Joaquim Baraúna) poeta bananeirense sentindo o desenvolvimento da cidade instalava a conhecida tipografia São Joaquim elevando ainda mais a qualidade do cordel produzido em Guarabira tempos depois transfere-se com o maquinário para Fortaleza continuando sua arte.
Entre ano de 1950 a 1960 duas tipografias em Guarabira foram absolutas na intensa produção de cordel a Tipografia Santos de Manoel Camilo dos Santos, e Tipografia Pontes do Sr. José Alves de Pontes.
Manoel Camilo, José Camelo e Chico Pedrosa cordelistas que orgulham Guarabira
O brejo paraibano não apenas notabiliza-se pela presença de seus engenhos e seus verdes canaviais mas também, por ser terra de poetas eruditos e populares indo de Augusto dos Anjos a Zé da Luz.
Guarabira orgulha-se dos filhos poeta que possui a exemplo de Ronaldo da Cunha Lima, do folclorista e também poeta José Rodrigues de Carvalho, de Manoel Camilo dos Santos de José Camelo, de Chico Pedrosa e de tantos outros.
José Camelo de Melo Rezende – Imaginoso poeta de bancada nasceu no dia 20 de abril 1885 autor de fecunda obra podendo igualar-se a Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde dois gênios da literatura de cordel. Camelo é conhecido nacionalmente por ser o criador da inigualável obra “Romance do Pavão Misterioso” utilizada no teatro, cinema, e televisão pelo seu inconfundível valor.
O pavão serviu de trilha sonora na novela Saramandaía exibida pelo Globo em 1977 sendo o seu compositor o cearense Edinardo. O pavão alçou vôo e cruzando os mares ganhou notoriedade nas universidades européias elevando o nome da nossa poesia popular.
José Camelo faleceu pobre e anônimo no dia 28 de outubro de 1964 na cidade de Rio Tinto antes de falecer escreveu esses versos carregados de profundo desencanto “Peço a todos meus amigos / Que depois da minha morte / Escrevam sobre meu túmulo / Numa lousa muito forte / José Camelo de Melo / Cantou mais não teve sorte”.
Manoel Camilo dos Santos – É outro poeta de nomeada nascido no sítio Bonfim no dia 05 de junho de 1905 passou a versejar muito cedo produzindo copiosa obra, foi editor proprietário da Folheteria Santos em Guarabira, mudou-se para Campina Grande em 1953 onde aí instala a tipografia “Estrella da Poesia” dentre suas obras é “Viagem a São Saruê” a obra de maior destaque servindo de inspiração ao respeitado cineasta Wladimir Carvalho na criação do documentário “País de São Saruê”.
A obra de Camilo foi vertida para o francês pela professora e pesquisadora Idelete Muzart.
Chico Pedrosa – Nasceu no distrito do Pirpiri zona rural de Guarabira no dia 14 de março de 1936 (dia da poesia) seu pai foi o afamado mestre Avelino cantador de coco de roda talvez daí tenha vindo a explicação para o seu dom poético. Aos quatorze anos começa a fazer versos, seu primeiro trabalho em cordel foi “O sofrimento dos nordestinos no Triângulo Mineiro”, daí para frente não parou mais, ora ao lado do poeta Manoel Monteiro, ora ao lado do amigo Ismael Freire viajavam de feira em feira vendendo cordéis como forma de ganhar o pão de cada dia. Aos 76 anos ainda com lucidez juvenil Chico tem se revelado um extraordinário declamador suas poesias lembram o mestre Zé da Luz em quem Pedrosa se inspira, sua mente incansável tem produzido poesias que são lançadas em CD, e DVD, não lhe faltando convites para participar de muitos eventos Nordeste afora.
Tudo teve início com a chegada de Chagas Baptista
É necessário realizarmos uma viagem no templo para avaliar a importância de Guarabira quando o assunto tratado é literatura de cordel. Tudo teve início quando 1909 chegava na mais importante cidade do Brejo o teixeirense e poeta de grande expressão Francisco das Chagas Baptista avô materno do teatrólogo Altimar Pimentel e naquela urbe brejeira instalava na antiga rua da Cadeia a “Popular Editora” passando a imprimir os primeiros folhetos de cordel que se tem noticia em Guarabira.
Esse poeta era compadre do genial Leandro Gomes de Barros pessoa com quem compartilhava a arte de fazer cordel. No ano de 1911, o poeta Chagas, muda-se para a capital Parahyba continuando aí no ramo gráfico imprimido cordéis e outros produtos do gênero, Chagas Baptista é citado pelo poeta Mário de Andrade no livro “O turista aprendiz” reconhecendo-o como figura proeminente no universo da literatura popular. Chagas foi autor de grandes obras a exemplo de “Cantadores e Poetas Populares (1924) faleceu em nossa capital em 1930.
Pedro Baptista irmão de Chagas e genro de Leandro foi outro importante nome em Guarabira, como herdeiro da obra leandrina reeditou entre 1919 a 1923 grande parte dos cordéis escritos por Leandro Gomes de Barros dentre eles o famoso cordel “O cachorro dos mortos”.
Humberto Santos (Jornal A União – Guarabira)
Durante conversa com Vicente, ele nos adiantou sobre a criação de uma Associação Cultura para divulgar cada vez mais estes e outros nomes da nossa cultura. Ele também nos informou que em breve fará um trabalho sobre o compositor Zé Katimba.
Sobre Katimba, escrevemos tempos atrás aqui em nosso blog.
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