Meu pai costumava contar um
exemplo curioso de cacófato em que a mistura sonora de duas palavras formaria
uma frase bem divertida, embora nada sociável. Contou ele que certa vez um
velho conhecido, ao elogiar a qualidade e o gosto do café feito por uma
distinta senhora, teria dito o seguinte: “Comadre, imagino esse seu café com
aquele pano de coar dentro.” Observe
que tal junção de palavras formou uma sonoridade marginal, a qual deu um novo
significado ao conjunto. Isso se deu pelo fato de o nordestino, no caso do
verbo “coar”, pronunciar o fonema /o/ com som de /u/. E aí... Essa figura de linguagem também tem sido, em alguns
casos, motivo para que muitos engraçadinhos façam piadinhas, muitas delas de
muito mau gosto. No caso acima a composição frasal citada deu-se em decorrência
daquilo que se poderia chamar de “incidente vocabular” em que o autor,
involuntariamente, acaba por criar uma terceira opção sonora. No caso acima,
bem “atrevida”.
Em uma dessas músicas apelativas
o autor da letra usou a cacofonia (a sonoridade como efeito pejorativo) para
passar a mensagem pornofônica que queria transmitir. Assim um trecho da letra
diz: “Dai álcool pra ele. Dai álcool pra ele cheirar.” Observe o
caro leitornauta que o substantivo “álcool” entra numa composição
propositadamente feita para gerar pornofonia. Claro, uma censurazinha não seria
nada demais para esses casos específicos. Também tem uma do alemão que não
sabia usar corretamente os artigos definido e indefinido. Habituado a trocar o [o]
pelo [a] alguém o advertiu de que nas palavras femininas usa-se o artigo
definido “a” e nas masculinas o “o”. Eis que certa vez esse mesmo alemão teria
visto um menino pronunciar a seguinte frase: “Acuda mãe!” O alemão imediatamente fez a “correção”: “Não ser ‘acuda mãe’, mas ‘ocuda
mãe’”. Coitado, entendeu tudo errado!
São casos engraçados de cacófatos
(cacofônicos e/ou cacográficos) em que voluntária ou involuntariamente o
sujeito termina por cometer gafes e “pagar micos” sem sequer se dar conta do
quão engraçadas podem ser as palavras quando usadas de maneira incorretas. Mas
fique certo o caro leitornauta que gafes todos cometemos. O editor de uma
revista de João Pessoa por pouco não pôs para impressão o seguinte título de
capa: “O boom da construção civil.”
Veja que bela junção de palavras! Ainda bem que ele percebeu o erro a tempo de
corrigir mais essa “peça” pregada por nossa língua.
Por fim podemos “presentear” o
caro leitornauta com mais algumas “pérolas” da língua portuguesa:
Pagou vinte reais por cada camisa.
O bolo ficou ruim devido à má mão dela.
Lá tinha de tudo.
Triste alma minha.
A boca dela é enorme.
Vou-me já.
Portanto, é bom nos policiarmos
quanto ao uso das palavras. Caso contrário...
Um abraço e até a próxima.
Nonato Nunes
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